Time Lapse



Venha, liberdade. Venha para minha rua e traga seus amplos horizontes.
 Traga o afago dos dias difíceis e um alívio pra suas dores.
Se mude pra minha rua; seja minha vizinha.
Bata na minha porta, sem acanhamentos e adocique minha boca com um pudim gelado.
Seja minha amiga, minha mãe e minha irmã
Seja minha.
Me leve pra passear, pra ver nascer a lua cheia, e depois me conte sobre como a vida ao seu lado é tão efêmera, e também inconstante.
Você só aparece de vez em quando.A espera pela janela, um olhar perdido e confuso; meu jeito taciturno escorado no portão, olhando a vida acontecer. Eu devaneio no brilho de qual espada você virá enquanto uma brisa quente balança os panos no varal, mas tu não tens armas. Perco o tino na rotina.
Eu conto as folhas que caem antes de sua chegada; em qual redemoínho virás? Os ponteiros correm ligeiros a sua procura.
Traga flores. Traga praia e sol salgado.
Inebria-me com tua essência. Me desamarra e desarma.
E quando entrar na minha vida, por favor, tranque a porta.

A valsa triste que toca no rádio embala essas horas aladas, voando rápido sem porquês. Bailam os joãos e marias, as meninas feias de olhos fechados a suspirar um sonho mel com açúcar. E de dentro do meu cubículo ainda dá pra enxergar um pedaçinho do céu. A solidão dança conosco as suas valsas e rodopia, pisa e apavora nossa cara cor de amora, com vergonha do olhar alheio, pelas ruas da minha cidade ingênua...

do doce, Julia.

Julia piscava alegria em seus olhinhos pueris, no fim da primavera. Naqueles dias a poeira caia lenta, pela amena madrugada. Ela divagava com o espelho, a imagem de si. Quem é vc, pensava. E depois escorria felicidade de seus poros, seus pelos molhados do suor misturado àquele prefume doce. Julia era uma coisa assim, doce. Um salivar constante de desejo e satistação. Gata doce, na boca da noite, na rua. Passava por entre os rapazes causando um misto de desconcerto e tesão. Julia, doce Julia....

Preciso do que quero [Quero o que preciso]


Preciso me desatar das amarras virtuais, sociais. Do passado e suas doces lembranças meio amargas, do trivial. Preciso de liberdade nas palavras, dentro da cabeça. Libertação Esquecer, jamais! Mas as correntes que me prendem, isso eu dispenso. Preciso da paz dos dias líquidos, sentir o sol arder na pele em dias ensolarados. Quero o cheiro mais puro, a bebida mais doce e gelada.

Preciso do que quero. Quero o que preciso. 

Viver mais eu, menos desconfiada de que preciso de ajuda, ou que preciso demais e de mais tantas outras coisas. Preciso preencher o vazio dentro de mim, q eu mesma faço todos os dias, até de olhos fechados enquanto durmo. Ficar surda pra tantas babaquices, pro sarcasmo e escárnio. Preciso quebrar esses cadeados, dançar quando tenho vontade e fazer de conta que eu sou invisível. Preciso parar de procurar o que me deixa triste! Não ler notícias que não me interessam. Quebrar o ciclo. Desligar o botão da auto-sabotagem [in]consciente. Preciso evoluir, dar um passo a frente desse momento que estou presa e não consigo me desvencilhar.

Preciso ser o que quero e parar de querer sempre ainda mais precisar...