Registros

sobre coisas boas que vão passando na lembrança, ele vai enchendo os papéis e a plenos pulmões canta, como um pássaro, pra o Amor e toda aquela sinergia de intenções e sensações. por instantes, sentia-se um pouco assustado diante do lado tão mais lindo das coisas, aonde o sol não queima e os corpos docemente se suportam, pensava em tentar parar o registro por causa do medo da recordação. recorda que lembranças nunca deixam feridas cicatrizarem por completo. por um momento vai pra dentro de si, procurando uma resposta, ou pelo menos um motivo, algo que o explique. segue e canta, insiste em fazer planos e calcula como colocá-los em prática...
e, por aí, papéis letras e linhas registram um breve estalo do viver.

Descontraídos

[lugar tranquilo, tv ligada e ventilador assoprando]
-quando eu ficar velhinho vc vai cuidar d mim?
-já tô cuidando de vc
[abraça]
-quando vc ficar velhinha eu te coloco num asilo daqueles beeem pobrezinho mesmo...
-...e que maltrata os idosos...
-é.. e só apareço lááá uma vez, se der.
-é, né!
[os dois riem]
-pois tá bom, eu te coloco num legalzinho.
-é, né, é bom saber...
[sorriso jocoso]

o local que ocupo (ou o espaço)

ás vezes eu me ponho entre o meu ego e minha verdadeira face
entre o que eu sou e meus fantasmas
aquilo que posso parecer
meu jeito de me movimentar, minha dristação
a direção praonde vai minha percepção
meus instintos e meus desejos
a sensação da vista alheia no meu corpo
nos meus olhos
descrê minhas verdades, interroga meu olhar
interrompe meu sorriso
me faz parar de escrever no meio do poema....

Air on a G String

Imagine
você caminhando pelas ruas desertas
no ritmo cadente e alucinado
das sonatas em dó menor
e tudo que contribuiu
de alguma forma
pro seu pensamento, pra suas crenças
pro teu maldito ego
passando por você e te cumprimentando
te fazendo rir
rindo de você
brigando
elogiando
te vangloriando
e te arranacando da lama que atola
seus sonhos, medos, esperança e amor
dançando ao seu redor
no ritmo da melodia
como uma bailarinha rodopiando sob a caixinha de música
e você seguindo pelas ruas desertas
repletas de coisas só suas
que ninguém nunca vai ver, ouvir
nem sentir
nunca irão sentir
impossível você vai pensar
mas não feche os olhos
aprecie o caminho
pois o caminho é sua própria vida
e sua vida vai te guiando pra algum lugar
existe uma força, uma tênue linha
que sustenta você
e nem eu sei te dizer
se ela é sua, ou se apenas você faz parte dela
Isto é o segredo
que nunca irá ser revelado
mas sempre possível de ser sentido
não esqueça
nem pergunte
apenas, sinta e imagine...

Algumas coisas

Juro que vou
envenar sua comida
cuspir no teu café
fazer você cair
provocar uma dor absuda
esconder teus óculos
Te cegar!

Tudo, só pra depois
te levar pro hospital
te servir o café
te ajudar a levantar
te medicar
e te cuidar
ler pra você só as coisas boas
e te guiar



Algumas coisas não são exatamente aquilo que se pensa, ou se sente...

Mais uma vez

Ela estava lá, te esperando, pra te contar as novidades quentes. Ela não parava, frenética de tanta alegria, de tanto amor que não cabia em si. Ela queria te dar, assim, por querer mesmo, sem nenhum motivo, nenhum pedido..só por te amar.
Mas vc chegou com dores nas costas, acordou de mal-humor. Escutou a novidade, dáva pra ver ela saindo pela outra orelha, indo embora, de mãos dadas com o encanto. Amassou e colocou todas aquelas coisas tão mais lindas no bolso da calça, como quem vai jogar fora, assim que dobrar a esquina...
E ela murchou, como as rosas murcham sobre a mesa. As lembranças borbulhavam e misturavam-se com aquilo que nunca havia sido; todo o zelo, todas as horas, o carinho e os sonhos. Tudo perdido, entregue em suas mãos. Parecia haver mais valor enquanto era segredo, parecia sagrado...


Perdão, vc, estou muito triste pra te contar....

Eu queria ter uma bomba...

quem escreveu nos meus olhos a lágrima que escorre? quem me encheu de intriga e me deixou assim, pequena por dentro, encolhida num canto dentro do meu absurdo vazio, desconfiada, pulsando desprotegida?



Por que as pessoas são assim?
Por que é tão simples estragar uma festa, cortar um barato, deixar alguém triste?
Qual o troféu que se ganha com isso?
Esta criatura precisa de uma mente sã. Uma rede de tarefas que me deixem ocupada por longas horas. Qualquer distração, já é um descanso na loucura. Os alguns minutos em frente ao espelho, conversando consigo mesma. Ficando louca de vez. Deve ser as várias doses de café, talvez o cigarro acelerando demais o coração e enchendo o pulmão de fumaça. Desconfio que o que falta é mais um real de confiança em si. Em mim! Em qualquer distração, num papo à tarde com as amigas, no apreciar o céu passando pela janela do ônibus, eu sigo confiando na parte boa do imprevisível. Recordando boas sensações, como naqueles dias, tão parecidos com esses de hoje, sentada a admirar o horizonte, a observar as pessoas, como se eu fosse invisível. Queria poder ser, em outro lugar, independente de tudo que já fiz até agora. Tentar ser melhor, pra mim mesma. Aí, começo a pensar em transformações, em me encontrar. Aí, eu fico viajando...



Ninguém nunca te disse
Como ser tão imperfeito
Você tem tão pouca chance
De alcançar o seu destino
É fácil fazer parte
De um mundo tão pequeno
Onde amigos invisíveis
Nunca ligam outra vez
Talvez até porque
Ninguém ligue pra você...
Só não se esqueça que atrás
Do veneno das palavras
Sobra só o desespero
De ver tudo mudar

Talvez até porque
Ninguém mude por você!...







*Imagem: Edgar Munch

Meio cansada

-Amor, hoje o céu está tão lindo. Assim as lembranças vão passando pela nossa cabeça. Desse jeito é que a gente recorda.-Será se é vc? Ele disse uma vez. E a novidade daquele dia deixava triste os olhos da moça de olhos tristes..e ficavam os dois assim, se olhando, por longos minutos. Aquele silêncio hj grita, de maneira diferente, ás vezes parece solidão.-Traz pão que eu passo um café pra nós. Como se não fosse tomar café, independente dos pães. O zelo, o encanto, o pensamento, tudo em simetria perfeita no cosmos.



Leitor, estou meio cansada pra te contar...

Por quê é mais forte quem sabe mentir?

O que será que existe nos olhos do mentiroso
que me cegam e guiam na escuridão desse delírio?
Elem disfarçam verdades em mentiras
e convencem minha sanidade
à luz de sua razão...


...como se eu não mentisse também.
(como se eu não soubesse)

Sobre ontem à noite...

Eu queria te pedir desculpas!


Pelo que eu fiz e por qualquer outra coisa que eu tenha feito. Mas, às vezes bato de frente msmo, me irrito e minto também..mas foi tudo pra não te magoar.
Eu também amo-te, de muito!, embora não consiga ser, pelo menos, explícita.
Percebi a tua lágrima e tua raiva, dentro de olhos seus.



Me perdoe, meu encanto...
Minha ilusão me convenceu
a colecionar os cacos como se fossem diamantes
a plantar flores no deserto
e esperar o jardim crescer

Meu erro me ensinou
sobre o fel e o mel
a desviar de recordações
e dormir a noite inteira sem sonhar...
Me diga que não foi tempo perdido
as noites sentindo a lua
a mistura de nossos corpos
o sono à dois
Sim, ás vezes, selvagem!
e agora teus olhos no meu céu
fazem cair a chuva
os grossos pingos de escuro
de toda essa incerteza...
Mas, me diga que não foi tempo perdido!

O fim

ao meu amor, com tristeza comunico, o fim da magia...
e das ardentes sonestias
que sentia fluir pelas noites serenas e frias
e,um simplório sinto muito!
...é apenas o que tenho a dizer.
Voe pelo céu de Ícaro
aonde a poesia controla o vento
mas não chegue perto do sol
As asas que lhe dei
frágeis são
Cuidado com a queda:
ela é livre...

A trajetória da saudade

Perseguindo Carol por entre suas leituras diárias, lá estava a saudade. Emudecida e contagiosa. Voava de canto em canto. Levantava os braços, acenava, batia asas o mais forte que podia, e a ventania varria as ruas. Pessoas, com olhos cheios de cisco, choravam copiosamente... Mas, Carol não percebia. Tão absorta nas estrelas, no pulsar cintilante da esperança, na inalcançável imensidão. Carol não a sentia por perto, até aquele dia em que se descobriu espiada pela saudade.
Mas, de onde ela veio?
A saudade bailava pelos ares, em seu compasso cadente. Tão egoísta e tão livre. Até avistar o terno moço, sob a sombra do ipê florido, escondido a observar...Carol lia absorta, acariciava a grama e o moço a olhar, a amá-la cada vez mais. Saudade ali ficou, a sentir os dedos de carol sob suas asas enquanto fechava os olhos e a pintava em sua memória...a tela mais bonita que a si fez.
O jovem moço cantou baixinho uma melodia e a saudade, imóvel, flutuou na direção de Carol. Teria sido notada, se não tivesse levantado-se de repente, deixando apenas seu perfume como um rastro no ar.
E a saudade a seguiu, levando consigo a melodia, o olhar e o desejo. Conseguiu, a muito custo, se esconder dentro do livro que Carol estava a ler. Num instante de distração, em mais umas das tentativas de se fazer visível, a saudade se colocou entre a tinta e o papel, e alí aguardou horas, semanas...anos.
Até o dia em que Carol se cansou de admirar estrelas e abriu as palavras, libertando sua voz. Ali, murcha e quase morta, Carol encontrou a saudade. E conversaram por horas a fio..
Mas, por onde ele anda?
A saudade com Carol ficou..e as guiavam, a esperança.

Undress me now.

Dá pra sentir, vc me olhando. E eu consigo ver o que tu ta pensando, pelo teu olho, janela aberta pra eu entar. Mas, pelo movimento dos meus quadris, eu digo, venha, entre!
Depois, é o hálito quente na nuca, as marcas invisíveis...as transas mágicas. Eu sei, vc está apenas pensando, me acompanhando com o olhar.


Garoto, me dispa agora, use sua imaginação...eu sei que vc sabe como fazer...

E, de repente

Estava vestindo as velhas fantasias infantis, enquanto o mundo girava. Deveria suspeitar que dormir talvez fosse perigoso.. mas, caí em sono profundamente subindo, subindo, lá em cima. Do alto dos meus tantos anos, minha alegria pareceu ter sido motivo pros balões da grande festa terem espocado, um a um. Agora, flagro-me aqui, sob à pele da fraqueza, engolindo minha dor, amargo amor.
Perdida, sempre.
Em pensamentos, versos
em qualquer pronome
Tu!
Sim, mas tudo bem
vc se revelando aos tapas
enlouquecendo
Eu!
Ele nos vigiando
bem de perto, quase dentro
perdoando
ou não.
Não sei pq, leitor
nunca irá saber
ele!
e eu nem sei pq continuo assim
olhando ele sempre espelho de mim mesma
perdida, sempre!

o ego se entrega

eu estava me sentindo inseguro, ouvindo a mesma música triste por várias vezes, durante toda a tarde. Eu sabia que isso era prejudicial, era um veneno na garganta, mas continuava a engolir minha dor. Foi quando achei motivo, dentro de mim, altamente corrosivo: o sentimento da rejeição, ou talvez, carência...

o ciúme.

a flecha negra me feriu justamente na garganta
e eu estava tentando engolir a minha dor
perdoe por cuspi-lo na sua cara
ou por ele escorrer pelas minhas palavras

Um outro dia a gente se vê...

Então, tudo bem, se vc prefere me deixar mergulhada no silêncio-resposta de qualquer inútil pergunta minha. Ficarei no subentendido e, de vez em quando, vou rolar de um lado pro outro, balançando a cabeça quando incomodar muito, deixando meu olhar absorto em algum pensamento que anestesie essa coisa, que, sei lá, se meche aqui dentro, de um lado pro outro, e dói...
Eu tentei uma maneira de te expulsar, dá um pé na bunda, sabe, mas, ás vezes é difícil; quando levanto o pé, chegas com sorriso em face, com alma estampada..e o pé levanta pro próximo passo, em tua direção...